segunda-feira, 7 de julho de 2025

O Diamante do Tejuco que Virou Constelação

 

O Diamante do Tejuco que Virou Constelação


O Furtivo

Roubado da coroa portuguesa

Não por mão humana, mas por um sopro de vento norte,

o diamante escapuliu do cofre real,

subiu as serras em noite de nevoeiro

e se plantou no céu de Minas,

entre o Curral del Rey e a Boca do Inferno.


A Transfiguração

Os padres dizem que foi milagre,

os garimpeiros juram que foi feitiço:

o Tejuco, maior que um punho fechado,

derreteu-se em luz azulada,

virou seis estrelas cintilantes

um carbunco celeste

a desafiar os mapas dos astrônomos.


A Procissão dos Mineiros

Toda noite de São João,

homens com lamparinas de trempe

sobem o Itacolomi em silêncio,

procurando no céu

o reflexo perdido da pedra:

"Lá está!", grita um velho, apontando

para onde a Via Láctea derrama seu leite

sobre a Serra do Espinhaço.

(Mas é só Vênus,

enganando os bêbados de saudade.)


O Segredo do Ourives-Mor

Na confraria dos que sabem,

contam que o diamante nunca subiu ao céu:

"Ele desceu,

e agora dorme no fundo do Ribeirão do Carmo,

coberto por musgo e lendas,

esperando que um filho de Chico-Rei

o encontre outra vez

e o devolva à terra que o pariu."


O Astronauta (Epílogo Moderno)

Em 1969,

quando o homem pisou na Lua,

um mineiro de Diamantina jurou

ter visto o Tejuco piscar

lá do alto da abóboda celeste

como quem ri

da vaidade dos impérios. Paulo Franco.


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