Prosa poética
A gratidão... ela não é um simples "obrigado" dito por educação. Não. Ela é mais profunda, é um estado de alma. É quando a gente para no meio do corre-corre, olha em volta e, num rompante de lucidez, aprende a dar valor ao que se tem. Ao que já veio e ficou, às cicatrizes que viraram história, à mesa não tão farta, mas compartilhada. E, num ato de coragem, também ao que ainda está por vir, àquela semente que a gente planta no escuro, confiando na chuva e no sol que ainda não viram.
Agora, o reconhecimento... ah, esse é diferente. Esse é a ponte. É o fio que tece a nossa pequenez com a grandeza d'Ele. Não é sobre merecimento, porque merecer... merecer a gente não merece nada. A vida não é uma troca, um sistema de pontos. É sobre graça. Pura e simples.
E aí brota esse sentimento, sabe? É um sentimento lucrativo, no sentido mais rico da palavra. Não lucrativo pro bolso, mas pro espírito. Ele enriquece a alma de uma paz que o mundo não vende. É quando você olha pra um amanhecer, pro abraço inesperado, pro pão de cada dia que apareceu na hora certa, e você tem a certeza. A certeza de que aquilo foi um presente. Um presente embrulhado em mistério, entregue por mãos invisíveis.
É aquele momento de clareza em que você sussurra: "Isso não foi por mim, não foi pela minha força... foi por Ele." E aí, no peito, não cabe gratidão. Cabe é um reconhecimento calado, uma dívida de amor que se paga apenas vivendo, honrando cada presente imerecido.
É isso. Reconhecer é se render à evidência de que somos amados, muito além do que qualquer merecimento poderia alcançar. Paulo Franco.


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