O Diamante do Tejuco que Virou Constelação
O Furtivo
Roubado da coroa portuguesa
Não por mão humana, mas por um sopro de vento norte,
o diamante escapuliu do cofre real,
subiu as serras em noite de nevoeiro
e se plantou no céu de Minas,
entre o Curral del Rey e a Boca do Inferno.
A Transfiguração
Os padres dizem que foi milagre,
os garimpeiros juram que foi feitiço:
o Tejuco, maior que um punho fechado,
derreteu-se em luz azulada,
virou seis estrelas cintilantes
um carbunco celeste
a desafiar os mapas dos astrônomos.
A Procissão dos Mineiros
Toda noite de São João,
homens com lamparinas de trempe
sobem o Itacolomi em silêncio,
procurando no céu
o reflexo perdido da pedra:
"Lá está!", grita um velho, apontando
para onde a Via Láctea derrama seu leite
sobre a Serra do Espinhaço.
(Mas é só Vênus,
enganando os bêbados de saudade.)
O Segredo do Ourives-Mor
Na confraria dos que sabem,
contam que o diamante nunca subiu ao céu:
"Ele desceu,
e agora dorme no fundo do Ribeirão do Carmo,
coberto por musgo e lendas,
esperando que um filho de Chico-Rei
o encontre outra vez
e o devolva à terra que o pariu."
O Astronauta (Epílogo Moderno)
Em 1969,
quando o homem pisou na Lua,
um mineiro de Diamantina jurou
ter visto o Tejuco piscar
lá do alto da abóboda celeste
como quem ri
da vaidade dos impérios. Paulo Franco.